terça-feira, 29 de março de 2011

Mênades


Quando falo em liberdade, mostro toda a minha ingenuidade. Minha liberdade é limitada. O respeito, a amizade, o acordo que fica subentendido em qualquer relação e a compreensão dos sofrimentos alheios são as quatro paredes que sufocam essa liberdade.
Quando liberdade significa traição, opto pela repressão dos meus desejos. Algumas vezes traí, movida por impulsos que pareciam incontroláveis. Mas depois ficou o mal-estar. Amadureci e hoje em dia penso melhor em meus atos e de que forma eles atingirão os outros.

Já fiz o que grandes amigos pediram para eu não fazer. Já ouvi um “poxa, eu só te pedi isso!” E finalmente aprendi que não posso sair por aí pisando nos sentimentos das pessoas para impor minha “liberdade de ser feliz”.

Mas não posso cobrar tal grau de consciência dos outros, principalmente quando eu não chego a pedir diretamente nada.
Eu não me sentiria mais tranquila em saber que não fui traída porque pedi. Gosto de deixar as pessoas que convivem comigo livres. Que elas próprias avaliem se eu mereço ser traída ou não, que elas criem seus próprios muros. Só assim eu vou saber quem é realmente fiel.

Não preciso dizer, então, que já fui muito traída... E hoje eu soube de mais uma pequena traição. Não cheguei a conversar com a pessoa sobre a sua atitude, não passei na cara tudo o que já fiz com e para ela, muito menos a lembrei de tudo o que um dia, em meu próprio quarto, eu desabafei. Apenas olhei em seus olhos, dei um sorriso de “eu já esperava” e me virei...

Agora eu encaro a vida com um jogo. Mostro todas as minhas cartas para ver até onde o outro vai. O mundo é cão, o homem é lobo do homem, mas eu quero mais é ser engolida, pois vocês não imaginam a indigestão que vem depois. Endureci e perdi a ternura!
Espero qualquer coisa das pessoas, nada mais me deixa horrorizada ou admirada.
Eu não faria o que essa pessoa está fazendo. Depois de saber de tudo, procurar ser orientada pela pessoa que foi um dos grandes fatores para o meu afastamento de algo que eu amava... Mas se para ela o que mais importa é o seu desenvolvimento técnico, independente de qualquer amizade, não posso condenar.
Continuarei sua amiga, chamando de “amore” e dando dois beijinhos ao encontrá-la.

É isso aí: seja livre e siga o exemplo das Mênades. Saia perambulando pelas montanhas e bosques num estado de permanente frenesi, alimentando-se de ervas, bagas silvestres e leite de cabra selvagem.

Isso, é claro, depois da dança...

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