segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

À Sombra do Delírio Verde

Nos últimos dias, fomos levados a comemorar - como se fôssemos todos grandes usineiros - o fim da tarifa de importação de etanol dos Estados Unidos e a extinção dos subsídios à produção. Este é um grande incentivo a novos investimentos na produção de etanol voltada para exportação aos EUA.
É lamentável como os meios de comunicação de massa procuram alienar a população, escondendo a realidade denunciada pelo documentário abaixo - nada fácil de assistir, diga-se de passagem - e supervalorizando a exportação de etanol. Todos os noticiários falam nessa produção apenas como uma expressão do desenvolvimento do país, do progresso, de modernidade, não apenas minimizando ou deixando em segundo plano os seus efeitos sociais, mas "simplesmente" omitindo qualquer comentário referente a esses problemas. É necessário acompanhar a questão e divulgar esse documentário, chamar a atenção para todo esse sofrimento, abandono e exploração das populações indígenas.

Sobre o que é denunciado no documentário À Sombra de um Delírio Verde:

Na região Sul do Mato Grosso do Sul, fronteira com Paraguai, o povo indígena com a maior população no Brasil trava, quase silenciosamente, uma luta desigual pela reconquista de seu território.
Expulsos pelo contínuo processo de colonização, mais de 40 mil Guarani Kaiowá vivem hoje em menos de 1% de seu território original. Sobre suas terras encontram-se milhares de hectares de cana-de-açúcar plantados por multinacionais que, juntamente com governantes, apresentam o etanol para o mundo como o combustível “limpo” e ecologicamente correto.
Sem terra e sem floresta, os Guarani Kaiowá convivem há anos com uma epidemia de desnutrição que atinge suas crianças. Sem alternativas de subsistência, adultos e adolescentes são explorados nos canaviais em exaustivas jornadas de trabalho. Na linha de produção do combustível limpo são constantes as autuações feitas pelo Ministério Público do Trabalho que encontram nas usinas trabalho infantil e trabalho escravo.
Em meio ao delírio da febre do ouro verde (como é chamada a cana-de-açúcar), as lideranças indígenas que enfrentam o poder que se impõe muitas vezes encontram como destino a morte encomendada por fazendeiros.

À Sombra de um Delírio Verde


Vídeo disponível em: http://vimeo.com/32440717

Tempo: 29 min
Países: Argentina, Bélgica e Brasil
Narração: Fabiana Cozza
Direção: An Baccaert, Cristiano Navarro, Nicola Mu
thedarksideofgreen-themovie.com

domingo, 3 de julho de 2011

40 anos sem Jim Morrison

Ando sem tempo para atualizar o blog, mas não poderia deixar de colocar alguma coisa sobre o Rei Lagarto, uma das figuras mais transgressoras e inspiradoras da história da música, que morreu em 3 de julho de 1971, há 40 anos.



‎"Tarô. Jogador solitário de cartas.
Dispõe as cartas para si.
Revolve o passado em eterna transmutação,
embaralha e recomeça:
Reúne novamente as imagens.
Volta a reuni-las.
Este jogo revela o pólen da
verdade e da morte..."

(Riders on the Storm)

A acidez e a busca pela magia continuam vivas dentro de algumas pessoas...

domingo, 29 de maio de 2011

Um brinde à Nietzsche!

Há dias em que a cultura não dá conta de vigiar os instintos. A bestialidade toma conta, passa por todo o seu corpo, toma conta de todos os poros, faz uma rebelião em seu sexo.
A civilidade pede calma! Os instintos são mais exigentes, pedem três coisas: gim, cigarro e sexo.
A besta que há dentro de cada um não gosta de sol, não gosta de calmaria.
Mas não se preocupe, ela não vai atacar você... fraco, impotente, limitado pela moral.
E eu, meu deus? Eu, que não consegui até hoje internalizar o que minha mãe passou todos esses anos me ensinando...
O que fazer se sou levada a lugares sujos, impuros? Atitudes absurdas... O que fazer se eu sempre acabo desrespeitando a família, o Estado, a pátria, o namorado? O namorado...
Deus, eu não queria ser tão vulgar, tão selvagem, tão primitiva!
E esse desejo pelo fogo? E essa luta contra a brisa calma do fim da tarde?
E essa simpatia pela dor? Não pela dor do outro ou pela dor da culpa... pela dor na pele, aquela que tira sangue e deixa hematomas...
Eu queria produzir, andar em linha reta...
Quem me julgará no final?
Deus, me salva!
(...)
Oh, meu Deus... traz o que meus instintos pedem e me salva desse tédio!
Traz o gim, o cigarro e a satisfação dos meus desejos... agora!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A serpente enganou-me... e eu comi!


Passei tanto tempo querendo provar dessa fruta. Imaginando o prazer que ela me daria. Como ela me faria ser aquilo que sempre sonhei.
Planejei toda a minha vida em torno desse alimento, pois só de imaginar o seu gosto, sabia que era isso o que me traria uma ilusão de completude.
Passava horas transformando minha realidade no futuro que eu tinha como certo. E tudo se encaixava...
O gosto que esperava sentir era semelhante ao de pitanga. Daquelas que eu e minha irmã tirávamos do pé que havia na casa da nossa avó, que também era nossa casa... Não, naquele tempo as pessoas mentiam para mim! Minha casa estava me esperando em outra cidade. Mas não adianta falar sobre isso agora, já que também a deixei para trás...
Tudo ficou para trás, hoje são objetos mortos, enterrados por minha péssima memória. Hoje em dia, quando tomo um suco de pitanga, não sinto mais aquele gosto. Não tem graça alguma. Atualmente eu ando preferindo graviola.
Passei tanto tempo fantasiando e esperando para sentir o gosto daquela fruta...
Mas quando finalmente pude colocá-la na boca, só senti gosto de plástico!

terça-feira, 5 de abril de 2011

“Eu vou à escola pra pegar mulher!”


“Eu vou à escola pra pegar mulher!”

A frase talvez não seja exatamente assim, mas a mensagem é essa. Ela foi retirada do filme Pro dia nascer feliz e gerou uma “excitante” discussão na aula de Fundamentos da Educação.
O professor, precisando passar o tempo, já que nem metade da turma havia chegado, iniciou um debate sobre o termo “pegar”, questionando se esta era uma expressão machista.
“Mulher também 'pega' homem ou apenas homem 'pega' mulher?” Muitos começaram a dizer que as mulheres também falam isso, é normal... e eu pensando nos milhares de textos realmente importantes que tinha para ler e no tempo que me falta, pois preciso ir às aulas da faculdade...
Até que meus pensamentos foram interrompidos. O professor apontou para mim, perguntou meu nome e passou a seguinte questão para eu responder:

“ - Você pega homens?”

Por que ele fez uma pergunta dessa logo para mim? Eu estava quieta... Admito que pensei em várias respostas... “Depende do dia”. “Ultimamente num tô pegando é nada”. “Infelizmente...”. Enfim... Mas lembrei que a discussão anterior era se esse termo poderia ser usado tanto para homens como para mulheres, então respondi:

“ - Acho que hoje em dia todo mundo pega todo mundo, professor!”

Eu esqueci que não estava na minha turma de história. Umas meninas ficaram indignadas com minha resposta. Outros riram... Mas eu estava falando sério!

Porém um rapaz começou a falar que “pegar” é um termo machista, pois significa que você está usando as pessoas como se elas fossem objetos.

Em primeiro lugar:
O significado da palavra machismo: “Comportamento, atitude de quem considera o sexo masculino superior, em direitos e qualidade, ao feminino.” Ou seja, se for aceito que tanto a mulher quanto o homem podem “pegar” (como foi colocado antes), não existe machismo nessa história!

Em segundo lugar:
Temos a necessidade de nomear as coisas, inclusive as relações. Então não vejo tanto problema em conceituar uma relação um pouco mais íntima com alguém por alguns minutos ou horas, com o termo “pegar”. Sim... existem palavras mais bonitas, assim como meu nome poderia ser Anysha, ao invés de Ana Karolina (nomes compostos só complicam!). O machismo, nesse caso, não está no termo em si, mas em quem o utiliza e na forma como é utilizado. Mas tomarei mais cuidado, não “pegarei” mais ninguém, apenas terei momentos de prazer e carinho com uma pessoa por alguns segundos, minutos, dias, etc. Desculpa se eu já te “peguei”. Mas deixemos de lado as ironias...

Em terceiro lugar:
Deste ponto eu tenho quase certeza que todos vão discordar de imediato. Peço apenas que leiam com calma e reflitam um pouco sobre isso. Pra mim, quando há qualquer tipo de relação entre duas pessoas, uma usa a outra para determinados fins. Quando eu desejo alguém, uso essa pessoa para satisfazer meus desejos. Se tenho necessidade de beijá-la, tocá-la e usarei seu corpo para isso. Se tenho necessidade de tê-la por perto, ela necessariamente será inteiramente usada por mim. São os meus desejos. E os desejos, em sua essência, são egoístas.. Quando há uma correspondência de necessidades, torna-se uma relação que consegue satisfazer os dois lados. Então, na verdade, as pessoas SE pegam.
Mas às vezes, por motivos diversos, entre eles o excesso de álcool, uma das pessoas não está muito consciente de suas vontades, então acaba que realmente uma pessoa pega a outra, mas esse é um caso muito triste e esse post é pra ser mais descontraído...
Sentimentos mais “nobres”, como o amor “de graça”, se existirem, são construções culturais.
Assim como a chamada banalização das relações humanas é uma construção social.
Mas isso faz parte de outra discussão...

Deveríamos deixar de tanta caretice. Os mesmos que criticam o machismo e a “banalização do amor” são os que cultivam essas construções, acreditando que há uma prioridade ontológica destas sobre o pensar.
Precisamos de mais liberdade, isso sim!

O problema não está em pegar, mas em NÃO pegar ou em não poder pegar todos os dias!

terça-feira, 29 de março de 2011

Mênades


Quando falo em liberdade, mostro toda a minha ingenuidade. Minha liberdade é limitada. O respeito, a amizade, o acordo que fica subentendido em qualquer relação e a compreensão dos sofrimentos alheios são as quatro paredes que sufocam essa liberdade.
Quando liberdade significa traição, opto pela repressão dos meus desejos. Algumas vezes traí, movida por impulsos que pareciam incontroláveis. Mas depois ficou o mal-estar. Amadureci e hoje em dia penso melhor em meus atos e de que forma eles atingirão os outros.

Já fiz o que grandes amigos pediram para eu não fazer. Já ouvi um “poxa, eu só te pedi isso!” E finalmente aprendi que não posso sair por aí pisando nos sentimentos das pessoas para impor minha “liberdade de ser feliz”.

Mas não posso cobrar tal grau de consciência dos outros, principalmente quando eu não chego a pedir diretamente nada.
Eu não me sentiria mais tranquila em saber que não fui traída porque pedi. Gosto de deixar as pessoas que convivem comigo livres. Que elas próprias avaliem se eu mereço ser traída ou não, que elas criem seus próprios muros. Só assim eu vou saber quem é realmente fiel.

Não preciso dizer, então, que já fui muito traída... E hoje eu soube de mais uma pequena traição. Não cheguei a conversar com a pessoa sobre a sua atitude, não passei na cara tudo o que já fiz com e para ela, muito menos a lembrei de tudo o que um dia, em meu próprio quarto, eu desabafei. Apenas olhei em seus olhos, dei um sorriso de “eu já esperava” e me virei...

Agora eu encaro a vida com um jogo. Mostro todas as minhas cartas para ver até onde o outro vai. O mundo é cão, o homem é lobo do homem, mas eu quero mais é ser engolida, pois vocês não imaginam a indigestão que vem depois. Endureci e perdi a ternura!
Espero qualquer coisa das pessoas, nada mais me deixa horrorizada ou admirada.
Eu não faria o que essa pessoa está fazendo. Depois de saber de tudo, procurar ser orientada pela pessoa que foi um dos grandes fatores para o meu afastamento de algo que eu amava... Mas se para ela o que mais importa é o seu desenvolvimento técnico, independente de qualquer amizade, não posso condenar.
Continuarei sua amiga, chamando de “amore” e dando dois beijinhos ao encontrá-la.

É isso aí: seja livre e siga o exemplo das Mênades. Saia perambulando pelas montanhas e bosques num estado de permanente frenesi, alimentando-se de ervas, bagas silvestres e leite de cabra selvagem.

Isso, é claro, depois da dança...

segunda-feira, 28 de março de 2011

É preciso esquecer os deuses!


“É hora de levantar. São oito horas.”
(…)
O sol da segunda-feira impede a satisfação completa de Morfeu. Como todo início de semana, precisa reacostumar-se com as conversas das crianças da escola ao lado, se é que podemos classificar aqueles ruídos como conversas e aquelas criaturas como crianças... Como todo início de semana, promete: “eu não quero ser professora!”.

Precisa ler dois dois textos da faculdade, ler umas notícias e entrar em crise, arrumar a casa, mimar o gato. Ler mais dois textos para a faculdade.

Depois de comer o sucrilhos de cada dia, pára com o laptop nas mãos e pensa na música perfeita para iniciar a segunda-feira. Lobão fala: “Sua vida burguesa é uma merda! Um roteiro de intrigas para Fellini fumar... Cercada de maus elementos, pessoas chatas, feias, bobas e burras. Ninguém pensaria que ela quer fuder!”

Rotina. rotina, rotina... falta! Espera que algo diferente aconteça em sua vida e a tire dessa rotina. Algo que deixe sua pele menos pálida, que diminua um pouco as olheiras que as horas de leitura do fim de semana deixaram. Algo que não seja a maquiagem.
Sua manhã é uma espera... Espera pelo café de depois do almoço. Ele faz acordar, libera endorfina. Agora sim pode escutar alguma música que lembre aquela intensidade de antigamente. Acredita que o dia finalmente começou...

Depois da decepção com Saturno e do calor entediante do Sol, vem Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus...
“Vênus, você tem 24h para trazer algo que faça sentido!”
Nunca pensou em Vênus como uma deusa silenciosa, sem brilho. Mas talvez ela tenha algo mais importante para fazer.
E a Vênus passa indiferente...

É preciso esquecer os deuses! Eles não sabem o que é tempo. Eles não têm História... nós temos!

“Baby, enquanto tu ficas esperando alguma coisa acontecer, várias coisas estão acontecendo mas tu não estás aberta pra isso, não estás vendo?! Enquanto esperas algo acontecer, milhões de pessoas se conhecem, se amam, se odeiam, se matam, se casam, morrem, engravidam, viajam, enlouquecem, viram hippies, viram gays, escrevem dissertações de mestrado... Tu não podes ficar fora dessa! Tens que acontecer também!”


Uma semana cheia de possibilidades a todos!

sábado, 19 de março de 2011

“Fazer filhos, nada há de melhor! Tê-los, que iniquidade!"

O trecho a seguir foi retirado do texto “O que é educar?” de Olivier Reboul. Esta é uma excelente análise sobre o conceito de educação, porém, divido com vocês apenas a crítica feita à FAMÍLIA. Esta sagrada instituição (segundo as mães...)que, segundo o autor, é o núcleo primitivo da educação, responsável por educar o sujeito antes mesmo de qualquer instrução. Responsável por formar “os sentimentos mais primitivos, 'o prazer, a afeição, a dor, o ódio', de forma que se articulem espontaneamente com a razão logo que, mais tarde, esta apareça nas crianças (Leis, 653a e segs.).” O motivo desse post não é simplesmente minha falta de criatividade nesses dias, mas a minha real admiração por um texto tão curto com tantas ideias que resumem bem a nossa (pelo menos a minha!) eterna crise em relação à família.


Como se sabe, a família sofreu uma retracção considerável no mundo
moderno. Em termos de volume, foi restringida ao casal e aos filhos menores.
Foi também restringida nas suas funções: ela não é hoje senão uma
comunidade de habitação e de consumo.
Também a autoridade dos pais
diminuiu, em especial a do pai sobre os descendentes. Esta autoridade foi
limitada, não apenas pelo Estado, mas também pelos costumes e pelas
crenças. Os pais já não podem decidir sobre o casamento ou a profissão dos
filhos. Tem-se mesmo a impressão de que os pais já não podem decidir sobre
nada! Ainda assim, a família mantém as duas funções principais relativamente
aos jovens: protegê-los (alimentá-los, vesti-los, cuidar deles, etc.) e educá-los.
E é aqui que aparece o paradoxo: ainda que controlada, ainda que
contestada, a autoridade dos pais sobre os filhos é no fundo muito mais real
que aquela que um Luís XIV ou um Napoleão podiam sonhar exercer sobre os
seus súbditos.
Se os pais não têm o direito de vida ou de morte sobre os seus
filhos, no entanto, é por seu intermédio que a criança vive e escapa à morte.
Eles podem não apenas impor-lhe ou proibir-lhe determinado comportamento
mas também modelar os seus pensamentos e sentimentos mais íntimos e mais
duradouros.
O poder parental continua a ser o mais “absoluto” dos poderes,
razão pela qual trememos ao pensar que pode estar confiado a seres brutais,
sádicos, fracos, limitados, vulgares, neuróticos, ou simplesmente a qualquer
um.
Assim se explica porque razão tantos pensadores se revoltam contra a
família: “Fazer filhos, escreve Sartre, nada há de melhor! Tê-los, que
iniquidade!” (As Palavras). É que esta palavra “ter” representa uma forma
exorbitante do direito de propriedade: a posse de um ser humano cujo destino
temos o poder de determinar.
Enquanto instância protectora, a sociedade
fechada que a família é desempenha um papel essencialmente conservador.
Ela desconfia, como se da peste se tratasse, de toda a inovação social, de todo
o não-conformismo, de toda a revolta, enfim, de todo o pensamento. Enquanto
educadora, a família é por essência uma sociedade hierárquica que repudia a
igualdade. Ter razão face a um irmão mais velho, ou pior ainda, face a um pai
ou a uma mãe, é injuriá-los. Piaget demonstrou que a criança só aprende na
família uma moral de constrangimento e de submissão a uma regra que é tanto
mais sagrada quanto menos é compreendida.
Protegendo e educando, a
família arrisca-se sempre a fazer da criança um eterno menor.
Estas críticas não se dirigem apenas à má família, aos pais egoístas ou
brigões, mas também à família unida, afectuosa, feliz. É esta, no fundo, que
Gide reprova enquanto “regime celular” cujas barreiras são os braços das
pessoas amadas. A afeição mútua, a preocupação de não magoar, de aceitar e
ser aceite, são também um impedimento a toda tentativa de crescimento
interior, de emancipação e de ultrapassagem de si próprio. A família
permanece unida porque cada um aceita, de uma vez para todas,
desempenhar sempre o mesmo papel, sem mudanças, sem surpresas. Aqui
reside sem dúvida uma das grandes causas da famosa crise da adolescência.
Os pais não admitem que a criança de ontem se torne subitamente um outro
ser, com os seus segredos, as suas ideias, as suas revoltas. Daí, o conflito.

Numa palavra, baseada num direito totalmente arbitrário, a família não
protege sem sufocar, não educa sem imobilizar.
Estas críticas não são
recentes. Encontramo-las na Republica de Platão sem falar do Evangelho:
“Quem se chegar a mim e não odiar seu pai e sua mãe ...” (S. Lucas, XIV, 26,
segs.). Actualmente, a autoridade da família é contestada tanto na América
como nos países subdesenvolvidos. Por todo o lado, ela surge como aquilo que
entrava o livre desenvolvimento do indivíduo. E, como bem se disse, a revolta
do homem moderno passa principalmente pela morte simbólica do pai ou, mais
raramente, da mãe. E isto porque estas autoridades são o modelo e a
substância de todas as outras - a de Deus, da razão, da sociedade, do chefe -
sendo, ao mesmo tempo, o mais irracional dos constrangimentos.


Mas calma. Você que sonha em formar uma família ou já a tem e acha que ela é bem estruturada, o resto do texto defende essa instituição, de forma que até eu, que faço minhas as palavras de Sartre, acho que “Até nova ordem, o papel da família é insubstituível” por uma série de fatores sociais, psicológico, políticos, etc... Assim sendo... Família: um mal necessário!

O texto está disponível em: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/cadernos/ensinar/reboul.pdf

quinta-feira, 10 de março de 2011

"Eu quero morrer no seu bloco..."


Carnaval é uma festa que sempre deixa marcas.
Saudade de beber todos os dias, de alguns shows, de ver uma quantidade impressionante de pessoas dividindo o mesmo espaço, de escutar frevo, de ver amigos que passam o ano inteiro longe, de colocar suas fantasias para fora... Nesse ano, difente dos outros, nada disso fez diferença para mim.
Estava resistente à festa mais popular do ano. O espírito carnavalesco demorou para baixar em mim. Ele foi trazido por desconhecidos. Pessoas desconhecidas entraram e mudaram meu carnaval e foram embora deixando um vazio.
Foi apenas uma semana, mas parece que foi um ano... me apeguei, admito! Já sinto saudade desses dias de curiosidade pelo outro, desejo, vontade de libertação e, ao mesmo tempo, a distância comum de quem está se conhecendo.
Isso sempre aconteceu comigo: as pessoas mais marcantes em minha vida foram as que passaram mais rápido por mim. Três meses, um mês, uma semana, uma noite... Pessoas que você não abandonaria no meio do caminho tão facilmente.
Lembro daquela viagem de ônibus confusa, daquele caminho escuro por uma rua tenebrosa, daquela noite em que eu não enxergava nada, mas sentia perfeitamente cada toque ou até mesmo daquele janeiro de boemia com a pessoas mais lunar que conheço. Mas hoje essas pessoas estão tão distantes...
O carnaval chegou ao fim... e eu não consegui falar a coisa certa no momento da despedida. Acho que não faria muita diferença para o outro, mas eu passarei longos dias com essas frases não ditas na cabeça.
Daqui a uns dias minha irmã também vai embora... eu fico...

terça-feira, 1 de março de 2011

O caos é a soma de todas as ordens*

Entre o caos e a ordem há um caminho muito curto, não morra sem conhecê-lo.
Pinte na parede do seu quarto alguém que se pareça com você. Não se esqueça de colocar um coração, um cérebro e uma sombra para a imagem não se sentir só.
Risque em seu caderno palavras sem nexo, apenas o que estiver pensando, e se seus pensamentos estiverem muito organizados, rode um pouco, vire de ponta cabeça, mas saia da linha, pelo menos um pouco...
Crave em sua pele palavras que não tem coragem de falar. Dessa forma, os outros prestarão mais atenção em suas mensagens e você sentirá a dor de não conseguir falar o que quer.
Procure todos os meios de se conseguir prazer.
Esqueça o chão, você não precisa dele para se equilibrar.Viva como as borboleta, demore para se desenvolver, viva pouco, morra livre.
Desarrume o que estiver ao seu redor, quebre tudo, tenha a força e a coragem de derrubar um governo. A vida não é feita para ser admirada, mas para ser vivida.
Não confie em pessoas muito controladas, que têm horário e dia para tudo: para beber, para abraçar, para sorrir, para conversar, para foder, para se entregar...

Viva assim, mas não esqueça de deixar o Rivotril sempre por perto. E sabe aqueles objetos que te proibem de levar no avião? Esconda!

*Frase que passou anos pichada em um painel da eterna reforma do Centro de Filosofia e Ciências Humanas - UFPE

Iniciando...

Há quatro anos, tinha um blog com este mesmo nome, que era até bem visitado, tinha muitos comentários e alguns textos até prestavam... Agora voltarei a escrever, porém provavelmente não falarei tanto em revolução social, como quando tinha 16 anos...
Talvez essa seja uma forma de auto-afirmação, pra alimentar meu ego em saber que algumas pessoas (umas cinco talvez) lerão meus posts...e uma forma de me expor também, pois uma coisa que eu não tenho vergonha de dizer é que eu GOSTO que me vejam e me ouçam!
Atualmente temos tão pouco tempo para refletir, debater e também pouco espaço para vomitar nossas crenças e descrenças, então acho válido utilizar essa e outras ferramentas virtuais para gritar silenciosamente e solitariamente o que pensa, além de ser uma forma de acompanhar os pensamentos de pessoas geograficamente ou intelectualmente próximas.
J'ai un esprit troublé, que não me permite caminhar em linha reta por muito tempo, então aqui provavelmente eu escreverei sobre tudo e de todas as formas! Também não sei se terei paciência para atualizá-lo com frequência, mas Sejam bem vindos e qualquer coisa, podem gritar! Eu prometo que gritarei de volta!